Software (livre) é Conhecimento (livre) – parte 2

Esta é a segunda e última parte do artigo. Então, primeiro leia a primeira parte.

No fim da primeira parte, eu disse que o software livre resolve o problema do não compartilhamento de conhecimento que acontece com diversos softwares, mas vamos entender isto melhor.

O que é Software Livre?

Na definição da Free Software Foundation (Fundação Software Livre), um software é livre quando garante 4 liberdades:

  1. Liberdade de rodar o programa para qualquer propósito;
  2. Liberdade de estudar como o programa funciona e modificá-lo para que faça o que quiser (acesso ao código-fonte é uma precondição para esta liberdade);
  3. Liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar o seu próximo;
  4. Liberdade de melhorar o programa e publicar sua versão modificada ao público, para que todo a comunidade possa se beneficiar (acesso ao código-fonte também é uma precondição para esta liberdade).

Todo o software (livre ou não) possui uma licença de uso – um software é livre quando sua licença de uso garante todas essas liberdades. E mais, um software livre não necessariamente foi criado desta forma. Existem diversos softwares que nasceram proprietários e tiveram sua licença alterada – é uma questão de escolha de seus donos. Veja alguns exemplos:

  • Linux: somente em 1992 Linus Torvalds mudou sua licença, abandonando a cláusula que proibia seu uso comercial e adotando a GPL (Licença Pública GNU);
  • Mozilla: criado a partir do Netscape e hoje evoluiu para o Firefox;
  • OpenOffice.org: criado a partir do StarOffice da Sun;
  • Blender: seu código-fonte foi comprado em 2002 diante da falência da companhia NaN.

História resumida do software livre

  • 1983 - Richard (Matthew) Stallman lança o Projeto GNU;
  • 1984 - Stallman abandona seu emprego no MIT para dedicação integral ao Projeto GNU;
  • 1985 - Fundação da Free Software Foundation, por Stallman;
  • 1991 - Linus Torvalds, desenvolve a peça que faltava para o sistema operacional GNU: o kernel (Linux), que, favorecido pelo ambiente colaborativo propiciado pela Internet, se desenvolveu muito rapidamente.

Podemos ver que num software livre (com as 4 liberdades garantidas), seu conhecimento não ficará restrito a um grupo pequeno de pessoas e poderá ser compartilhado com qualquer pessoa! Poderá ser melhorado ao gosto de cada um, como a receita de bolo compartilhada entre amigos. No entanto, se aplicarmos a regra do software proprietário às receitas de bolo, seria inaceitável um comportamento como pedir uma receita – você poderia ser preso por isso! Parece um absurdo completo, mas várias formas de conhecimento são tratadas desta forma. Alguns exemplos são: música, livros, filmes e software. Existem os direitos de cópia (copyright) e os direitos autorais, mas isso é assunto para outro artigo (teremos uma palestra sobre este assunto no GNUGRAF também).

Desta forma você pode pensar: “além das coisas cotidianas (como receitas de bolo) e do software livre, existe alguma forma de conhecimento nos dias de hoje que não seja restritivo?”A resposta é sim! A pesquisa científica vêm trabalhando há séculos com um modelo baseado em livre exposição de pensamentos, onde os autores são reconhecidos por mérito. Onde o trabalho de um acaba, começa o de outro e, assim, a humanidade foi evoluindo. Como disse Isaac Newton no século XVII:

Se vi mais longe foi por estar sobre ombros de gigantes.

Com tudo isso mostrado, podemos chegar à nossa segunda conclusão: Se software é conhecimento, …

“Software livre é conhecimento livre!”

Vantagens do software livre

Podemos entender os impactos positivos da produção e uso de software livre em quatro perspectivas: social, técnica, política e estratégica.

Do ponto de vista social (algumas vezes chamado de “filosófico” ou “ideológico”):

  1. Reaproveitamento de ideias;
  2. Conhecimento acessível a qualquer pessoa;
  3. Geração de trabalhos baseados;
  4. Colaboração entre pessoas;
  5. Ferramenta de estudo e pesquisa.

Do ponto de vista técnico:

  1. Permite evolução competitiva, rápida e sólida (correção de erros ou bugs);
  2. Maior segurança, por se saber o que está sendo executado;
  3. Software é evoluído por necessidades técnicas e não financeiras;
  4. Garante permanente compatibilidade entre os produtos das diversas versões, caso contrário, a continuação da versão anterior;
  5. Aderência a padrões abertos (como ODF, usado no OpenOffice.org, e HTML, usado para se fazer sites web).

Do ponto de vista político:

  1. Inclusão digital;
  2. Vantagens pedagógicas (transformando os alunos em produtores e não só consumidores, não obriga o aluno utilizar softwares pelos quais não poderá comprar e prega aos jovens uma visão de colaboração do mundo);
  3. Modelo economicamente sustentável;
  4. Desenvolvimento distribuído gera ganhos financeiros e tecnológicos localmente;
  5. Soberania nacional.

Do ponto de vista estratégico (empresas e governos):

  1. Independência de fornecedores;
  2. Economia (não necessidade de compra de licença de uso);
  3. Garantia de manutenção em caso de descontinuidade;
  4. Possibilidade de desenvolver funcionalidades que considera mais prioritárias.

Espero que tenham gostado e aguardo os comentários! Além disso, se morar no Rio de Janeiro, não deixe de ir ao GNUGRAF. É de graça e teremos diversas palestras e mini-cursos como profissionais de qualidade das áreas multimídia. Bem, eu vou ajudar no evento, mas não vou perder as atividades relacionadas à produção musical :). Grande abraço!

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