O sucesso do Android

Este artigo foi publicado originalmente na Revista Espírito Livre n.18. Clique aqui para baixá-la e ler os demais artigos!

O Android atualmente é um dos sistemas operacionais para dispositivos móveis mais populares que existe. Dessenvolvido pela Google com o apoio de diversas empresas que formaram a Open Handheld Alliance, ele é baseado em Linux e tem seu código-fonte publicado sob uma licença de software livre. Seu sucesso de adoção, tanto por parte dos usuários como das fabricantes, finalmente colocou o Linux na mão de milhões de usuários em mundo todo!

No entanto, não é de hoje que grandes empresas investem na criação de sistemas abertos e baseados em Linux para dispositivos móveis, mas não tiveram um destino tão feliz. Mas então por que com o Android foi diferente? Para tentar entender isto, vamos ver o que aconteceu neste mercado.

Visão geral do mercado

A primeira grande empresa a entrar no mercado de sistemas livres baseados em Linux foi a Nokia que, em 2005, lançou o seu primeiro internet tablet com a plataforma Maemo: o Nokia 770. Depois disso, a finlandesa lançou mais 2 produtos similares até que, em 2009, ela resolveu entrar lançar o primeiro

smartphone da família: o N900. Com este aparelho, foi lançado o Maemo 5, versão esta que seria a última, pois, em 2010, a Nokia se juntaria com a Intel e sua criação, o Moblin, para desenvolver o MeeGo. O motivo da fusão foi que, apesar do peso do nome da Nokia e deste longo histórico, o Maemo nunca realmente “pegou” a não ser entre os usuários mais avançados e interessados em brinquedos tecnológicos.

Nokia 770: primeiro internet tablet com Maemo

Nokia 770: primeiro internet tablet com Maemo

O Moblin foi criado pela Intel para competir no mercado de netbooks equipados com seus processadores Atom. Havia muita expectativa e alguns produtos foram até lançados, mas a Intel não progrediu muito no mercado. Como já foi dito, ela acabou juntando esforços com a Nokia para tentar obter mais resultados.

Foi então que surgiu o MeeGo, um sistema que junta o conhecimento da Nokia em tablets e smartphones com o da Intel em netbooks, se tornando assim a plataforma móvel mais flexível que existe atualmente, com previsão para ser usado até mesmo em carros. Importante falar que a Linux Foundation está apoiando o projeto e, ao que parece, ele é considerado pela fundação a “versão oficial” do Linux para dispositivos móveis. No entanto, até este momento o MeeGo é apenas expectativa e sua primeira versão preparada para usuários finais deverá sair em outubro deste ano.

Interface do MeeGo para netbooks

Interface do MeeGo para netbooks

Outra empresa a investir foi a FIC, que não é tão grande e conhecida, mas que não poderia faltar nesta lista, pois seu projeto foi o mais inovador: o OpenMoko. Criado em 2006, ele tinha o objetivo de criar o primeiro smartphone totalmente livre, tanto hardware quanto software, e lançou dois produtos seguindo esta filosofia: o Neo 1973 e o Neo FreeRunner. O primeiro foi apenas para desenvolvedores, enquanto o segundo objetivava o público geral. No entanto, apesar de toda a liberdade que traria aos fabricantes, nenhuma grande empresa realmente se interessou por ele. De fato, elas inclusive o consideravam “aberto demais” e, com isto, ele foi um fracasso de vendas e de adoção por parte dos fabricantes. Apesar disso, ele tem sido um ótimo playground para os hackers que portaram diversos sistemas para o aparelho, inclusive o próprio Android.

</p>

Neo 1973 com OpenMoko

Neo 1973 com OpenMoko

</span>

Em 2007, um grupo de empresas, incluindo Motorola, Panasonic, Sansung e Vodafone, criaram uma fundação para o desenvolvimento de uma nova plataforma móvel semi-aberta baseada em Linux: a LiMo Foundation. Em pouco tempo, diversas outras empresas se associaram e uma quantidade razoável de aparelhos foram lançados, mas não decolou e atualmente só é conhecida em países orientais, como Japão e Coréia.

Outro caso de insucesso foi o webOS da Palm. Lançado em 2009, foi uma grande promessa de volta por cima da Palm, primeira gigante do mundo da computação móvel, mas que havia esquecido de se atualizar e acabou ficando para trás dos concorrentes. Com uma arquitetura de desenvolvimento de aplicação inovadora, muita gente apostou que o webOS seria “o” sistema operacional livre baseado em Linux dominante. No entanto, as coisas também não caminharam da forma esperada e a Palm foi comprada pela HP em maio deste ano. Ao que parece, a HP vai dar continuidade ao trabalho, já falando na versão 2.0 do webOS, mas ele está longe de virar a plataforma dominante.

Palm Pre com webOS

Palm Pre com webOS

Já o caso do Android foi totalmente diferente. Em 2007 a Google anunciou seus planos de liberar o sistema que havia adquido com a compra da Android Inc. numa licença de software livre e criou a Open Handset Alliance em conjunto com 78 empresas. O primeiro aparelho Android foi lançado em 2008 (o HTC G1), mas a primeira versão do software só foi liberada ao público em 2009. De lá para cá, o número de aparelhos com o sistema cresce assustadoramente e, há pouco tempo, a vendas de smartphones Android haviam ultrapassado os iPhones nos EUA. Atualmente o desenvolvimento dele está muito ativo, a loja virtual cada vez mais populosa e lançamentos com recursos excitantes

Controvérsias do Android

Mesmo com todo o sucesso, o Android está circundado de controvérsias que poderiam ter impedido todo este sucesso. A principal delas surgiu quando o Maemo e o webOS ainda estavam na briga pelo mercado e diziam que o sistema da Google não era “livre o suficiente”. Algo que alimentou muito foi o lançamento do G1 antes da liberação do software. Além disso, a Google continua desenvolvendo a portas fechadas, no final, “despejam” (este é o verbo que eles usam) o código-fonte.

HTC G1

HTC G1

Depois as concorrentes acusaram o Android de não ser tão parecido com uma distribuição Linux como seus próprios sistemas. De fato, o Android roda uma versão do Linux desenvolvida à parte da versão oficial, o que já causou até mesmo alguns atritos entre a Google e os desenvolvedores do sistema do pinguim. No entanto, a Google já tem planos de mudar isto, até mesmo por questões de custo – é caro manter uma versão diferente de qualquer software.

Um pouco mais à frente a Google ainda teve um desentendimento com o CyanogenMod, uma versão comunitária do Android. No final acabou bem, mas houve proibição de distribuição dos aplicativos Google neste pacote, pois estes são de propriedade da empresa.

</p>

CyanogenMod

CyanogenMod

</span>

Por que o Android se tornou um sucesso?

Esta é a dúvida que fica, após analisarmos o hitórico e as controvérsias ao redor do sistema. Seria pela qualidade técnica do produto? Na minha opinião não, pois os concorrentes também eram, em sua maioria, muito competentes. Pela abertura do código e desenvolvimento certamente também não foi, pelos motivos supracitados – se fosse assim, o OpenMoko que deveria ter se tornado um sucesso.

</p>

Neo Freerunner rodando Android

Neo Freerunner rodando Android

</span>

O principal motivo, na minha opinião, foi a Google ter fundado uma aliança com diversas empresas fortes no mercado móvel, fortalecendo o ecossistema do software. Como vimos, a Nokia, a Intel e a Palm tentaram partir sozinhas e esperando que outras empresas se interessassem e se juntassem, mas isto nunca aconteceu. No entanto, a LiMo tentou esta estratégia e foi mal sucedida. Daí vem o segundo motivo: um grande nome.

Ter a Google desde o início como cabeça do desenvolvimento do sistema foi altamente benéfico ao Android, pois é uma empresa respeitada internacionalmente, bem vista pelo público e imparcial no mundo móvel. Esta imparcialidade acredito ter sido também fundamental, até mesmo para a formação da Open Handset Alliance, pois é muito difícil pensar que, por exemplo, a Motorola iria investir num projeto liderado pela Nokia. Além disso, o Google bancou praticamente todo o desenvolvimento dando às fabrincantes um sistema pronto para usar.

Por fim, acho que outro fator determinante foi a escolha da plataforma de desenvolvimento de aplicações: o Java. Esta é uma das linguagens mais utilizadas no mundo e é muito mais fácil de aprender do que C/C++, necessários no devenvolvimento para Maemo e Moblin. No caso do webOS isto é um pouco diferente, pois o desenvolvimento é feito com tecnologias web, bastante difundidas e de fácil assimilação, mas estas tecnologias ainda não estão maduras o suficiente para desenvolver aplicativos complexos.

Conclusão

Como pudemos observar, “a união faz a força”, mas um grande nome faz a diferença. Além disso, escolhas inteligentes acabaram por aniquilar totalmente as chances dos concorrentes. Vamos ver como o mercado vai se comportar com o lançamento do MeeGo, mas, sinceramente, acho que duas empresas sozinhas não vão conseguir competir com um sistema que tem produtos lançados por diversos fabricantes.

E quanto aos sitemas proprietários? Acho muito difícil qualquer plataforma proprietária conseguir competir com uma aberta. O iOS (do iPhone) é exclusivo aos produtos Apple e isto não é interessante para o mercado. A plataforma Windows Mobile é mais aberta à utilização pelos fabricantes, mas, em sua nova versão, está adotando políticas restritivas ao desenvolvimento de aplicações que pode inibir desenvolvedores de aplicativos, assim como está acontecendo com a Apple. A Sansung também lançou o sistema BadaOS que é baseado em Linux, mas é proprietário e não conta com a participação de nenhuma outra empresa – se ele virar um sucesso realmente será uma grande surpresa.

Além disso, existe a questão do custo. Cada vez mais vemos lançamentos de aparelhos chineses de baixíssimo custo, que atendem a uma parcela da população que não tem condições financeiras para comprar um smartphone topo de linha. Apesar de, na maioria das vezes, terem qualidade duvidosa, suas vendas estão aumentando e levantando também a participação do Android no mercado.

</p>

Huawei IDEOS: Android de baixo custo

Huawei IDEOS: Android de baixo custo

</span>

Mais informações:

No webmentions were found.